São pratos, Senhor, são pratos… E tigelas…

Não foi a Rainha Santa Isabel, que se pronunciou, mas o achado foi um verdadeiro tesouro!

Com a intervenção do Centro Tecnológico Especializado a iniciar-se, decorreram trabalhos ao nível do sótão, da antiga cantina Escolar, no edifício Joaquim Mariz, onde foram descobertas uma vintena de antigas peças usadas naquele espaço. Falamos de pratos e tigelas, arrumados no sótão quando se deterioravam, mas que permitem identificar, na perfeição, o tipo de serviço ali prestado, estimando-se que datem da década de 50 do século passado.

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O achado, surpreendente, foi analisado, tendo-se decidido, em função das peças encontradas, fazer a sua doação, para preservação de memória do seu doador e da história associada,  ao Município, ao Museu Municipal, à Junta de Freguesia de Fão e aos familiares, entrega que aconteceu hoje, como documentado numa das fotos desta publicação (entrega feita pelo Presidente do Conselho de Administração ao sobrinho-neto, Sérgio Mariz).
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A Zendensino vai ainda proceder à produção de uma coleção de pratos e tigelas replicando o modelo agora achado, em homenagem a Joaquim Mariz e à sua doação. A replica da baixela, que será usada no seu restaurante pedagógico, poderá vir a ser posta à venda, caso haja procura que o justifique, pois haverá um número significativo de antigos alunos das Escolas Amorim Campos a quem estas imagens trarão memórias dos tempos de infâncias e das refeições servidas na escola.

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Numa pesquisa na internet, lemos, num trabalho do Novo Fangueiro, assinado por  Manuel Vieira, que ainda existem “algumas referências a  Joaquim Mariz reside ainda nas memórias locais por causa do edifício da antiga cantina escolar, com o seu nome, a lembrar a sua ação solidária. Por cá ainda podemos conversar com o seu sobrinho Carlos Mariz, incansável nas pesquisas interessantes sobre parte da nossa história.
Mas… quem foi esse homem que já poucos lembram e que tem nome de rua?”

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Dada a importância desta figura, julgamos relevante partilhar o que diz esta publicação: “Joaquim José Domingues Mariz nasceu no dia 1 de Dezembro de 1891 e era filho de António Domingues Mariz, natural de Fonte Boa e de Josefa Sobral, fangueira de gema, dando assim início à “dinastia” dos Marizes em Fão.
A referência à monarquia tem a ver com o ano de 1910, em que se verifica a mudança de sistema político, estando Joaquim Mariz no último ano de Teologia no Seminário de Braga, onde estudava.
A República não se dava com o clero e a revolução usurpou muito do seu património e os estudantes foram incorporados no exército, por onde passou o jovem Joaquim. Monsenhor Mariz , tio do novato, era na altura Desembargador do Paço em Braga e teve influência no percurso seguinte do nosso jovem, que em 1911 demandou terras de Santa Cruz, um destino habitual na época.
Era o início de um percurso de vida com muito sucesso e com repercussões muito importantes para Fão até ao fim da sua vida.
Inicialmente viveu em casa de um seu primo, natural de Fonte Boa e que disfrutava de grande prestigio no Rio de Janeiro, trabalhando numa sua fábrica.

Ana Vasco, filha do primo, era uma jovem muito culta e Joaquim Mariz encontrou nela a mulher da sua vida. Casam-se e nasce entretanto Vasco Mariz, que mais tarde segue a vida diplomática com grande êxito, tendo sido condecorado pelo Governo português.
Joaquim Mariz alcançou grande êxito nos negócios e também na vida social do Rio de Janeiro.
Nunca esqueceu no entanto a sua terra natal. Juntamente com Artur Sobral e Avelino Pires Carneiro conseguiram na comunidade fangueira apoios financeiros para os Bombeiros e para o Hospital. Também o edifício da cantina beneficiou do seu esforço, tendo a população apoiado a atribuição do seu nome aquela obra, na qualidade de benfeitor.
Em Março de 1969 preparava-se para visitar Fão mas adoeceu e no dia 1 de Abril faleceu. Tinha no seu propósito visitar as Instituições de solidariedade fangueiras e oferecer mais um apoio financeiro, como era costume. A sua esposa procurou ainda fazer cumprir o desejo de Joaquim Mariz mas foi também atraiçoada pela morte.”

Coube ao filho Vasco Mariz respeitar a vontade do pai, já por volta de 1971, visitando Fão e distribuindo pelos Bombeiros e pelo Hospital o valor prometido.
A comunidade fangueira residente no Brasil procurou sempre ser parte activa no desenvolvimento da sua terra e alguns dos maiores beneméritos tem esse feito recordado nos registos toponímicos.
É um facto que as gerações seguintes se dissolveram na sociedade local e os tempos mudaram, residindo no entanto em muitos, o cheiro da saudade de uma terra simpática que muitos não viram ainda, mas que ainda canta “Fão, linda terra minha…”.

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Para esta publicação releva uma outra pesquisa, destacando-se o Decreto-Lei n.º 38472, de 20 de outubro de 1951, que “Autoriza o Governo, pelo Ministro da Educação Nacional, a aceitar uma importância para fundo da manutenção de uma cantina escolar anexa às escolas de Fão, concelho de Esposende, a qual será denominada Cantina Escolar Joaquim Mariz.”

Neste ponto, será interessante conhecer os registos existentes no Arquivo Municipal, e pesquisáveis online, ficando a saber -se que, tendo o Estado reconhecido, em 1941, que era incapaz de solucionar o problema da falta de cantinas escolares: "não só não poderíamos construí-las por toda a parte, como sobretudo não poderíamos sustentá-las” assume particular relevância “Uma medida reforçada com Decreto-Lei n.º 35769, de 27 de julho de 1946, que referia "A construção de cantinas escolares carece de prévia autorização do Ministro das Finanças, que a poderá conceder quando haja doação de benfeitores não inferior a 200.000 escudos para a manutenção de cada cantina ou entidade de carácter oficial que assuma a responsabilidade de mantê-la." 

Ora, lemos na mesma fonte que, e neste contexto, em 1951, “graças ao benemérito Joaquim José Domingues Mariz que doou o valor de 350000 escudos”,  foi criada "uma cantina anexa às escolas de Fão, concelho de Esposende, que será denominada Cantina Escolar José Mariz".

A primeira Comissão Administrativa da Cantina Escolar seria nomeada por despacho ministerial no dia 22 de fevereiro de 1952, sendo composta pelo José Pio Rodrigues, enquanto presidente e representante do doador, e as vogais Ida Augusta Gonçalves Eiras e Maria Cândida Ferreira Rodrigues de Areia.

Fica o convite para ser aprofundado este tema, através da pesquisa no Arquivo Municipal, cujo link abaixo se partilha, bem como o das restantes fontes consultadas.

Fontes: Novo fanqueiro online

Diário da República: Análise Jurídica - Decreto-Lei n.º 38472 | DR

Arquivo Municipal de Esposende: Cantina Escolar Joaquim Mariz • Arquivo Municipal de Esposende